quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Saber!

Há pouco, fui almoçar como de costume. E esse almoço acabou sendo nada como de costume...
Sempre que posso, almoço aqui na empresa, porém sempre vou bem tarde. Nossos funcionários são um tanto 'ignorantes' e ficam intimidados com minha presença [além de eu ser a única mulher nesse meio], por isso eu sempre vou depois deles.
Hoje, quando cheguei na cozinha, ainda havia um almoçando. Eu dei boa tarde, fui simpática e procurei não constrangê-lo. Percebi que ele afastou um pouco na mesa, pra longe de mim, começou a prestar atenção na TV e em sua comida apenas, de uma forma bem tímida. Peguei minha refeição, sentei e não falei mais nada. Depois de algum tempo, percebi que ele estava 'retrucando' [falando, mas de uma forma tão grotesca que mal dava pra entender o que ele falava], eu virei pra ele, com um sorriso de educação e ele continuou a falar, e em alguns instantes estávamos 'conversando', ele falava de desperdício, de algumas situações que já havia passado na vida, de algumas reações que as pessoas tinham em meio a tanto caos que vivemos, eu apenas concordava e falava pouco, percebi que ele tinha necessidade de se expressar e de fazer aquilo para 'alguém'. E foi interessante, pois apesar de ser um de meus funcionários, eu nunca antes havia falado com ele, apenas: 'bom dia', 'boa tarde', 'até amanhã'.
Depois ele se calou e voltou a sua comida. Na TV passava informações sobre a olimpíada de Pequim, ele assistia atento. Quando terminou a reportagem, ele passou um tempo calado, depois olhou pra mim e disse: - 'eu não entendo como a gente vive num mundo só e num lugar é dia e no outro noite!'.
Eu dei um ar de riso e em meu estado normal, teria dado uma boa gargalhada. Mas parei e percebi que ele falou aquilo com a maior inocência e ignorância. Percebi, também, que ele estava esperando uma resposta minha. Eu respondi: - 'mas não é por causa do movimento de rotação da terra?!'. Ele olhou pra mim com uma cara de 'fale português por favor'. E eu expliquei como funcionava os movimentos da Terra e do sol e como são determinados os dias e as noites. Peguei umas coisas na mesa e exemplifiquei, me perdi em minhas explicações, e quando percebi, ele estava olhando e ouvindo esta 'explicação', como uma criança olha os preparativos para uma festa [principalmente a parte dos doces]. Quando vi sua fome e vontade de aprender uma coisa tão simples, tão besta que qualquer criança de 8 anos sabe explicar, pude perceber quão ingratos muitas vezes somos. Quanta diferença há no mundo. E num mundo tão próximo que às vezes nem percebemos.Eu mesma, vivo reclamando por não poder fazer mais do que faço, por querer fazer algumas coisas e o dinheiro não dá, alguns cursos que não posso pagar, objetos que não posso ter... Outro dia fui a praia, perto de minha casa com uns amigos, e fomos assaltados por ladrões armados que mal sabiam falar. Tomaram minha mochila [contendo 7 celulares, 2 MP4, 1 Ipod, 1 câmera digital, carteiras de couro e dinheiro], levaram apenas os celulares, um dos MP4 [que por sinal, parecia um celular] e o dinheiro. A ignorância era tanta que deixaram a câmera e as outras coisas de valor. E eu penso que fizeram isso por não conhecerem os objetos.Um amigo meu chegou a comentar que teve até medo de chingar eles ou falar mais algumas coisas e eles não entenderem. Nós chegamos a rir na hora, mas depois, nostalgicamente fiquei pensando no ocorrido.
Desde aí, venho pensando em como a educação, o 'saber' pode mudar a vida das pessoas. Quanto de oportunidade essas pessoas não tiveram?! O que poderia ser diferente se eles tivessem estudado, ou tivessem um pai ou uma mãe preocupados, zelosos, ou até mesmo quisessem mudar suas vidas e sair da mediocridade.
Só sei que o pouquinho do meu conhecimento que compartilhei hoje, me deixou mais feliz por ter tido essa oportunidade do que ficou feliz a pessoa que pôde receber as informações. O sorriso, por saber e uma dúvida tirada de uma pessoa, que não teve muitas oportunidades na vida e que é taxado de louco, bêbado, imprestável, como o já vi sendo tratado por colegas de trabalho. O 'doce' que ele conseguiu ganhar por sua 'obediência', como acontece com as crianças. E a oportunidade que me causou de me sentir grata e bem.
Isso tudo pode não ter sentido para algumas pessoas, mas pra mim faz... E como faz! Talvez agora, se pudesse compraria um alto falante de alcance mundial e sairia tirando dúvidas de pessoas como esse meu funcionário, se eu visse um sorriso daqueles no rosto de cada um.
Mas, é a vida, são as pessoas, o sistema. Cabe a nós, tentar mudar o mínimo que seja!
Me chamem de louca, utópica, idiota, do que quiserem. Cada um pensa o que quer, fala o que quer e ouve o que muitas vezes não quer. E essa sou eu: louca, utópica, idiota, crente, esperançosa... e todos os outros mais adjetivos otimistas que eu conheço.

=]

3 comentários:

Camila Dantas! disse...

"Mayharinha que bonitinho, vc coloca seus sentimentos mesmo aqui!
amei essa postagem, o nosso entendimento pode tambem mudar o mundo, e naum soh as bolhinhas de sabão!=)

Rubian Calixto disse...

-
concordo plenamente,
se cada um de nós nos dedicássemos a dissipar nossos conhecimentos... o mundo seria melhor.
Bela postagem, adorei!
beeeeijos.

Robin Anne disse...

Mayhara! Acho que ainda falo portugues. Você pode jugar. Nossa! Como é legal que você me achou aqui no blog! Eu queria tanto comunicar com a ala Dunas, mas eu achei que tinha desperdidas todas as maneiras de comunincacão. Mas é legal mesmo ouvir de você.

Eu estou muito bem com minha familia tão linda (obrigado por dizer isso Mayhara). Caius tem tres meses agora. Ele gosta de vomitar (bem, não sei se ele gosta, mas ele vomita mesmo!), brincar com o papai, e...como se dice...mamar? Ele é bem forte, e gosta de ficar de pé o dia enteiro.

Vou ser professor de inglês. Bem, eu estou estudando para sê-lo. Estou feliz aqui em Provo Utah.

Nossa, estou tão feliz em ouvir de você. Passe as notícias para todos e manda um grande abraço para todos que eu conhecia la. O bispo, os missionários de ala, os conversos...basicamente todo mundo. Tenho saudades de mais de todos.

Fale logo visse! Queiro ouvir de todos!

-O Neal